Trabalho e Dignidade

Quem nunca escutou da avó “Fulano é um rapaz muito trabalhador”. Por que “trabalhador” se transformou em uma qualidade? Talvez seja algo que nós assumimos naturalmente sem antes raciocinar sobre toda uma ideologia que existe por trás desse conceito. No entanto, essa ligação entre trabalho e dignidade tem fruto em algumas relações sociais típicas da história de nosso país.

Desde tempos antigos, o trabalho sempre foi visto como uma penitência. Se remetermos à Bíblia, na passagem do Gênesis que trata sobre Adão e Eva, ao serem expulsos do Paraíso, eles são condenados ao trabalho com as próprias mãos. Essa ideia também é absorvida na Antiguidade romana e grega que tratam o trabalho com algo destinado a quem não possui dignidade, ou seja, só trabalha quem é escravo ou quem não possui tempo para a ociosidade. Tempo para lazer deveria ser algo reservado a pessoas dignas, e o trabalho a pessoas indignas.

Essa concepção perduraria pela sociedade moderna em que o trabalho também seria visto como coisa de escravo ou pobre. Os ricos se dedicam à administração e política. Então por que a gente possui hoje essa ideia de que o trabalho é uma qualidade do indivíduo se durante o Brasil escravista o trabalho também era visto como algo de gente indigna???

Precisamos remeter ao final do século XIX no Brasil… O fim do Império e da instituição escravidão fariam com que a cidade do Rio de Janeiro, também capital da recém-formada República, passaria por um processo de uma sociedade escravista para uma sociedade de ordem burguesa. Se ontem o senhor tinha escravo, hoje esse mesmo senhor não pode mais se utilizar da escravidão, porém ele necessita de alguém que trabalhe para ele. E então, como resolver essa questão?

A partir desse dilema, as classes dominantes da cidade do Rio de Janeiro começaram a adotar um discurso de revalorização do trabalho. Precisava-se que o indivíduo sentisse prazer e visse dignidade sendo trabalhador. Daí criou-se uma ideologia que defendia que o trabalho fosse a essência de qualquer bom cidadão.

Como controlar esses milhares de ex-escravos que no pós-abolição se transformaram em uma classe pobre na capital? Vendendo a ideia de que somente o trabalho irá te salvar dessa condição e que a vagabundagem é um desvio moral, só não trabalharia quem fosse malfeitor. Inclusive, durante a Primeira República, existia uma lei que criminalizava o ato de vadiagem em espaços públicos, ou seja, não poderia demonstrar ociosidade.

A partir de então até os dias atuais, o imaginário popular ainda enxerga o trabalho como algo gratificante e que compõe a figura de um bom cidadão. Todos nós possuímos o desejo de cursar o que tanto sonha para seguir uma carreira e trabalhar para ser aquele tal “Fulano” do discurso da vovó!

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