Spotlight: um ótimo filme para candidatos de Humanas

O filme vencedor do Oscar 2016 não era o favorito. Não foi um filme muito comentado aqui no Brasil e muitos não assistiram. A questão é que a premiação não foi à toa. A história, baseada em fatos reais, se passa dentro de um jornal em Boston (Estados Unidos). Uma equipe de jornalismo investigativo tem a missão de dar o famoso “furo de reportagem” no caso de pedofilia dentro da Igreja Católica. Por ser um assunto muito delicado e polêmico, a repercussão é maior do que se imagina.

Como já escrevemos aqui no Blog anteriormente, séries e filmes podem ser ótimas formas de aprender algumas matérias e até sobre profissões. Então, vamos analisar 6 pontos do mais novo ganhador do Oscar sob o ponto de vista dos estudantes:

  1. Comunicação

O filme se passa dentro de um jornal. É possível que se observe perfeitamente a rotina de um jornalista na sua forma mais tradicional de trabalho. Um editor-chefe passa para uma equipe um tema a ser pesquisado. A partir daí, começa o processo de pesquisa, apuração, entrevistas e confirmação ou não do que se suspeitava. Fica muito claro no filme, que para que algo seja publicado, o jornal tem um cuidado enorme de apurar ao máximo com as fontes mais confiáveis. Outro detalhe super importante: a maneira na qual um jornalista aborda as fontes. É possível ver a insistência dos jornalistas, a sensibilidade de tocar em pontos muito delicados para os entrevistados e também a coragem de bater de frente com pessoas importantes. Além disso, a satisfação de um jornalista ao ver sua contribuição para a sociedade.

  1. História

Historicamente, a Igreja Católica teve muita força no Estado. A história do filme lhe traz a curiosidade de entender como começou o celibato dentro da Igreja. Resumidamente, a questão econômica foi a principal razão para que o celibato começasse no Cristianismo. Na Idade Média, a Igreja queria defender seu patrimônio para evitar que se tornasse objeto de disputa entre herdeiros. É interessante perceber como uma decisão da Idade Média se mantém até hoje.

  1. Globalização

O filme se passa em uma era que a internet começava a fazer parte da coleta de informação. Não só isso, os jornais impressos começavam a conhecer um novo e grande player na indústria da informação. Atrair os consumidores com matérias muito relevantes era fundamental, uma vez que, muito conteúdo já está disponível online gratuitamente.

Olhando por uma outra perspectiva, a revelação que os jornalistas do filme tiveram teve repercussão mundial. Na obra, é possível ver uma lista com o nome de muitas cidades no mundo todo com casos semelhantes de pedofilia, incluindo Arapiraca, Franca, Mariana e Rio de Janeiro.

  1. Sociologia

Nesse contexto, podemos mencionar uma das frases mais emblemáticas do filme: “ Se é preciso de um povoado para criar uma criança, precisa-se de um povoado para abusar de uma”.

Nesse sentido, podemos citar o fato de que muitas pessoas sabiam dos casos de pedofilia, mas acabavam se mantendo em silêncio. O que fica mais fácil de entender se baseando na lógica de Durkheim: a sociedade não deriva de um acordo entre indivíduos livres. Estes indivíduos são produto da existência da sociedade. Deste modo, a consciência individual é apenas resultado de processos de socialização e não é ela que gera a sociedade.

  1. Psicologia

O roteiro lida com crianças, principalmente homens, que sofreram algum tipo de abuso sexual na infância. O filme é bem sutil nesse aspecto, pois não mostra nenhuma cena de pedofilia e todos os relatos são dados por adultos. Mas é possível analisar o trauma que fica em cada personagem a dar seu depoimento. Por mais emocionalmente estáveis que pareçam, em algum momento eles se abrem e mostram como aquela dor continua viva.

  1. Filosofia

A questão da ética é forte no filme. O jornal em questão já havia recebido material de fontes confiáveis para que a matéria fosse escrita, mas mesmo assim o arquivou e nada fez.

“A ética [contemporânea] adquire um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética se entrelaça necessariamente, com a política, entendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessa, as relações sociais e que interliga os indivíduos entre si.” (Severino, A. J.)*

Como citado anteriormente, publicar uma matéria como essa, teria uma repercussão grande no âmbito religioso da sociedade. Mas até que ponto a ética está nesse caso? O jornal não torna os casos públicos para proteger uma sociedade estável, mas criminosos acabam não pagando pelos crimes que cometeram. Esta é uma grande discussão sobre a ética, tema recorrente no Enem.

Para os interessados, o filme ainda está disponível nos cinemas em versões dubladas e

Liev Schreiber / instagram.com
Liev Schreiber / instagram.com

legendadas. Além do Oscar de Melhor Filme, a obra ainda foi premiada com o Oscar de Melhor Roteiro Original. Dirigido por Thomas McCarthy, conta com a participação de atores famosos como: Rachel McAdam, Michael Keaton, Mark Ruffalo, entre outros.

*o texto de Severino caiu no Enem 2010. Confira a questão:

“Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substancial. Soberano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética adquire um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética se entrelaça necessariamente, com a política, entendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessa, as relações sociais e que interliga os indivíduos entre si.” Severino. A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992 (adaptado)

O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo de formação da ética na sociedade contemporânea, ressalta

a) Os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias.

b) O valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos.

c) A sistematização de valores desassociados da cultura.

d) O sentido coletivo e político das ações humanas individuais.

e) O julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente.

Gabarito: D

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