Prender a atenção do leitor no início de um texto é fundamental para que ele se engaje com a leitura até o final. Por isso, hoje, o professor Raphael Torres dá a dica sobre a tão temida Introdução.
1) “Introdução sobre Introdução”
Sair da inércia em termos de escrita sempre se mostrou um grande desafio. Pensar na primeira palavra a ser utilizada; ficar inseguro diante da possibilidade de, fazendo diferente do que foi montado, ficar melhor: traços típicos de qualquer produtor textual, desde um estudante de Ensino Fundamental até mesmo um Doutor em Linguística. Assim, um dos fatores mais relevantes a se considerar em uma introdução é o traço psicológico: é decisiva a relação subjetiva com o texto. Conhecer-se quanto a potenciais e limitações na hora de escrever, perceber as possibilidades oferecidas pelo tema e armar-se de técnica, estratégias indispensáveis para um bom começo de dissertação e, a partir daí, para um excelente resultado.
Essas estratégias eficazes começam a partir do conhecimento do que se deve ou não produzir em termos de Introdução. O primeiro parágrafo da dissertação argumentativa precisa atingir algumas metas indispensáveis para seu bom funcionamento.
2) Objetivos
2.1) Contextualizar o tema proposto
Bem mais interessante do que já iniciar o texto com o posicionamento claro frente à proposta da prova, a estratégia de ilustrar o assunto em que o tema se encontra situa o avaliador diante do que se vai tratar na sequência. É como se o sucesso da redação dependesse de o texto falar do tema, mas como se fosse um processo espontâneo, não como resultado de uma cobrança de prova.
Ex. Instrumentos midiáticos, que buscam constantemente a adesão de consumidores a ideais de vida disfarçados de produtos e serviços, não ignoram o incrível potencial de crianças e adolescentes diante desse propósito. O que se tem feito inescrupulosamente em termos de publicidade com vistas a esse público em especial vem querendo uma atenção especial por parte da sociedade, levando-se em consideração aspectos humanísticos, econômicos e até mesmo ambientais.
2.2) Posicionar-se frente ao tema
O avaliador precisa ter a segurança, logo no parágrafo de Introdução, de que posicionamento será sustentado ao longo dos de Desenvolvimento, que aparecem logo na sequência. Mostra-se extremamente nociva qualquer inconstância quanto à opinião escolhida, o que exige um discurso marcado por firmeza e convicção, efeitos obtidos por meio de afirmativas ou mesmo de interrogações, desde que realmente retóricas.
Ex. Instrumentos midiáticos, que buscam constantemente a adesão de consumidores a ideais de vida disfarçados de produtos e serviços, não ignoram o incrível potencial de crianças e adolescentes diante desse propósito. O que se tem feito inescrupulosamente em termos de publicidade com vistas a esse público em especial vem querendo uma atenção especial por parte da sociedade, levando-se em consideração aspectos humanísticos, econômicos e até mesmo ambientais.
2.3) Citar os argumentos sequenciais
Estratégia alternativa muito interessante para a coesão entre Introdução e Desenvolvimento, citar os argumentos a serem desenvolvidos nos parágrafos seguintes exige um pré-requisito: capacidade de síntese. Se o candidato acabar por literalmente argumentar em vez de apenas resumir em um termo ou expressão o que defende sua tese, acaba por atribuir à Introdução um papel que não corresponde a essa parte da dissertação, comprometendo sua qualidade como um todo.
Ex. Instrumentos midiáticos, que buscam constantemente a adesão de consumidores a ideais de vida disfarçados de produtos e serviços, não ignoram o incrível potencial de crianças e adolescentes diante desse propósito. O que se tem feito inescrupulosamente em termos de publicidade com vistas a esse público em especial vem querendo uma atenção especial por parte da sociedade, levando-se em consideração aspectos humanísticos, econômicos e até mesmo ambientais.
3) Propostas de modelo
Assim como simplesmente iniciar com as mesmas palavras se mostra extremamente desgastado e, por isso, nocivo à percepção de um avaliador cada vez mais criterioso (“Atualmente”, “Atualmente a sociedade” etc.), podem ser aplicados alguns modelos frasais como forma de iniciar a redação com técnica e qualidade. Esses padrões, entretanto, não são “congelados”, cabendo ao candidato a criatividade de manipulá-los, misturá-los, enfim, utilizá-los de forma a entregar à Banca o que espera como resultado em termos de texto.
Diante de, como aqui já comentado, a natureza do tema (polêmico, subjetivo, social etc.) e o estilo do redator (tradicional, ousado etc.) serem decisivos na escolha desses modelos, cada um deles apresenta vantagens e riscos quanto à opção por seu uso, o que, assim como algumas propostas de Introdução, citaremos a seguir.
3.1) Declaração Inicial: afirmativa que carrega posicionamento direto frente ao tema.
Ex. Instrumentos midiáticos, que buscam constantemente a adesão de consumidores a ideais de vida disfarçados de produtos e serviços, não ignoram o incrível potencial de crianças e adolescentes diante desse propósito. O que se tem feito inescrupulosamente em termos de publicidade com vistas a esse público em especial vem querendo uma atenção especial por parte da sociedade, levando-se em consideração aspectos humanísticos, econômicos e até mesmo ambientais.
Vantagens de uso: Simplicidade de uma afirmativa comum, sem maiores ousadias.
Riscos de uso: Devido à simplicidade, menor capacidade de diferenciação junto a outros candidatos em uma correção, mesmo que intuitivamente, comparativa.
3.2) Interrogativa: pergunta(s) que contextualiza(m) o avaliador diante do tema, disfarça(m) uma afirmativa com posicionamento sobre o tema (retórica) ou aponta(m) o desenvolvimento como sua resposta (“gancho”)
Ex. Como não se incomodar com órgãos de comunicação que maquiavelicamente fazem seres humanos em pleno processo de desenvolvimento acreditarem em uma realidade utópica que somente certos produtos e serviços seriam capazes de proporcionar? A atuação da publicidade frente ao público infantil precisa ser revista e monitorada numa sociedade em que diminuem sensivelmente os limites entre consumo e consumismo.
Vantagens de uso: Aproximação com o interlocutor sem marcas típicas inadequadas a uma dissertação.
Riscos de uso: Perguntas sem resposta e falta de posicionamento onde se faz fundamental sua presença.
3.3) Definição: conceito de uma das palavras-chave do tema ou associada a ele, contextualizando o avaliador ou já, por meio principalmente de adjetivos ou advérbios, posiciona-se quanto à discussão em pauta
Ex. Propaganda consiste em um mecanismo de divulgação de produtos e de vantagens obtidas a partir de seu consumo. Quando o alvo dessa divulgação se trata de um ser em meio a etapas de construção de identidade, deve haver todo cuidado possível para que uma simples informação não se transforme em um instrumento de manipulação visando a interesse estritamente mercadológicos.
Vantagens de uso: Início rápido, a partir de um termo que nem se deve buscar pessoalmente, já oferecido pela prova.
Riscos de uso: Demonstração, mesmo que involuntária, de pobreza vocabular, já que conta com palavra da própria proposta para iniciar o texto.
3.4) Histórica: contextualiza cronologicamente o avaliador, buscando principalmente estabelecer uma linha temporal evolutiva da totalidade ou de parte da proposta temática
Ex. Vivendo desde a implantação do Plano Real em 1994 um período de notável aumento na capacidade de consumo, a população em geral tem sido alvo de agências publicitárias interessadas em mobilizar possíveis clientes para os mais diversos produtos e serviços. Em meio a essa massa disposta a comprar, crianças facilmente manipuláveis, que ainda não conseguem perceber motivações ao supérfluo e muitas vezes ao enganoso.
Vantagens de uso: Caráter transdisciplinar, exigido pelos critérios de correção, e apoio na sustentação da tese, mesmo que fora do desenvolvimento.
Riscos de uso: Erro conceitual (dados equivocados) e incompatibilidade com o tema proposto.
3.5) Visão bilateral: descrição/citação de dois tipos individuais, grupos sociais ou contextos diretamente conectados à situação que envolve o tema proposto pela Banca.
Ex. Em agências de publicidade, empresários ávidos por mensagens criativas que estimulem o consumo desenfreado e muitas vezes irresponsável. Em frente a vitrines muito bem decoradas, crianças sedentas de ter, usar e muitas vezes ostentar tudo por que seus olhos brilham. Lados de uma relação em que normalmente saem perdendo orçamentos e identidades ainda em formação, que passam a priorizar desde muito cedo o que a propaganda praticamente lhes impõe como padrão de vida.
Vantagens de uso: Amplitude e capacidade de exemplificação na observação do tema.
Riscos de uso: Inconstância no posicionamento frente ao tema (“em cima do muro”).
3.6) “Flashes”: enumeração de termos separados entre si por pontos finais ou vírgulas que, na distribuição com que se apresentam, sugerem ilustrações do tema abordado em prova.
Ex. Bonecas, roupas, cosméticos. Dos mais previsíveis objetos aos menos esperados alvos de cobiça, produtos e serviços têm ocupado o imaginário de crianças e adolescentes, motivados por mecanismos de propaganda que ocupam muitos momentos de suas rotinas. A naturalidade com que se faz essa venda cotidiana frequentemente impede que a percebamos e debatamos possíveis consequências danosas à sua formação como indivíduo.
Vantagens de uso: Permitir uma melhor visualização e consequente contextualização da abordagem, aproximando o avaliador.
Riscos de uso: Falta de coerência perceptível entre os termos listados, fugindo do efeito pretendido, e desgaste quanto ao uso, já que muitos alunos têm optado por tal estratégia.
4) Propostas de modelo associativo
A originalidade pode favorecer o candidato num processo extremamente saudável ao texto, se bem executado, de associar modelos como os que vimos até aqui, resultando em um parágrafo de Introdução diferente dos demais e obediente às condições de um início de dissertação, por isso mais eficaz como “cartão de visita” de uma obra mais qualificada.
Ex. Vivendo desde a implantação do Plano Real em 1994 um período de notável aumento na capacidade de consumo, a população em geral tem sido alvo de agências publicitárias interessadas em mobilizar possíveis clientes para os mais diversos produtos e serviços. Como não se incomodar com órgãos de comunicação que maquiavelicamente fazem, em meio a essa sociedade, crianças, seres em formação, acreditarem em uma realidade utópica que somente certos produtos e serviços seriam capazes de proporcionar?
Assista ao vídeo com a explicação:
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