Vestibular: Quando o Mundo Muda o Direito Muda

direito

Com um campo de trabalho que permite a atuação em várias áreas, um ponto em comum deve ser considerado por quem pensa em escolher o Direito no vestibular: é uma profissão que exige muita leitura e estudo desde o início do curso até a aposentadoria. A advogada Maria Wanick Sarinho, 33 anos, explica que o Direito tem uma relação direta com as mudanças da sociedade e, da mesma forma que ela, está em constante mudança e desenvolvimento – por isso o estudo constante é imprescindível.

Atualmente, Maria trabalha em um escritório de advocacia voltado para a área cível e empresarial, no Recife, cidade em que nasceu. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco, ela é advogada há dez anos e começou a trabalhar na área há oito anos.

Durante a faculdade, foi bolsista do CNPq, monitora de direito comercial e fez intercâmbio estudantil por um ano no Institut d’Études Politiques (SciencesPo), na França. Maria também passou por dois estágios – prática que considera fundamental para o estudante da área. “No estágio o aluno pode formar uma postura mais crítica acerca da aplicação do Direito no caso concreto e tem uma melhor assimilação do conteúdo”, opina a advogada que foi estagiária na Advocacia-Geral da União (AGU) e na Defensoria Pública de Pernambuco.

direito
Créditos da imagem: AerialMike/DepositPhotos

Na entrevista a seguir, Maria fala um pouco mais sobre a carreira e o curso escolhido.

QG – Quais as características você considera necessárias para quem pensa em ser advogado?

Maria Sarinho (MS) Acho que um bom advogado deve ter não apenas um vasto conhecimento jurídico, mas a habilidade de trazer este conhecimento para a prática do seu escritório. A responsabilidade com o cliente e o compromisso com a ética são fundamentais para o bom desempenho na profissão. O dinamismo e um forte senso de justiça também são importantes, pois é o advogado quem ajuda as pessoas a lutarem pelos seus direitos.

QG – As transformações na sociedade, em diversos âmbitos, levam a criação ou alteração das leis. Podemos dizer que isso faz do Direito uma carreira que exige do profissional o estudo constante?

MS – O Direito tem uma relação direta com as mudanças da sociedade e, da mesma forma que ela, está em constante mudança e desenvolvimento. E o estudo constante é fundamental para tentar manter-se a par da grande quantidade de diplomas legislativos que surgem com espantosa rapidez no país, para acompanhar o entendimento jurisprudencial sobre diversos temas, além de estudar os entendimentos doutrinários. A atualização constante, portanto, é imprescindível para qualquer profissional do Direito.

QG – Há vários caminhos para tomar na hora de pensar a carreira. Tens alguma dica de como o estudante pode definir a melhor área?

MS – Acho que o fundamental na faculdade é experimentar. Há muitas opções dentro da graduação das quais as pessoas, às vezes, não se dão conta: monitoria, pesquisa científica, cursos de extensão, intercâmbio internacional, entre outras.
Além disso, acredito que o estágio é fundamental para quem estuda Direito.  É no estágio que se começa a perceber a utilização prática de todos aqueles conceitos aprendidos na faculdade. Afinal, quando se lida diretamente com um caso real, é mais fácil visualizar a diferença que a boa ou má aplicação do Direito faz na vida das pessoas.

É importante escolher um estágio onde se tenha oportunidade de aprender e crescer academicamente, pois o estágio é um complemento daquilo que é ministrado durante a graduação. Por isso, dê atenção tanto à parte mais pragmática, como a ida ao Fórum, protocolo de petições e acompanhamento de processos, quanto à parte mais intelectual, para que ganhe prática de redação jurídica, fundamental para todo operador do direito. Meu principal conselho é: não deixem de estagiar!

QG –  O formando de Direito já sai da faculdade com a obrigação de fazer o Exame da Ordem, se quiser advogar. Como foi a sua experiência e preparação para o exame?

MS –  Minha experiência no Exame da Ordem foi bem tranquila. Com relação à minha preparação, a única coisa que fiz de especial foi me matricular em um curso preparatório específico para a segunda fase da OAB. Eu escolhi fazer a segunda fase em direito do trabalho porque sentia que seria bastante interessante me aprofundar mais na área que eu tinha visto pouco durante a faculdade.

QG – Acredita  que o aluno já deva se preparar para o Exame desde o início do curso?

MS – Acredito que a faculdade deve ser levada a sério desde as primeiras cadeiras, que servem de fundamento para a construção do pensamento jurídico. O aluno que se empenha em apreender o conteúdo criticamente e se interessa pelas matérias ministradas e sua aplicação prática desde o início da faculdade estará bem preparado para atuar como jurista e, como consequência, para a prova da OAB.
Como toda avaliação, contudo, para o Exame de Ordem é importante conhecer e se adaptar ao estilo de prova. Mas acho que este tipo de estudo mais focado é importante apenas antes de prestar o exame. Durante a graduação, o interessante é abrir os horizontes e descobrir seus interesses dentro do Direito, não restringir-se apenas ao que é cobrado no Exame de Ordem.

QG – Direito possui várias vagas em concursos com salários atrativos. Você considera uma boa opção? Já pensou em seguir a carreira na administração pública?

MS – Vários dos concursos públicos com proventos mais atrativos são exclusivos para bacharéis em Direito. São cargos que têm altos salários, além de alguns estarem também relacionados a grande prestígio social, como juiz ou promotor público.
Já pensei e ainda penso em, no futuro, talvez seguir carreira na administração pública. Como toda carreira, o serviço público tem vantagens e desvantagens: quem decide prestar concursos pensando apenas nos altos salários ou na estabilidade provavelmente irá se decepcionar com a rotina do cargo tão arduamente alcançado. Aqueles que levam a sério a função pública devem trabalhar bastante para servir a todos, buscando construir uma Justiça mais rápida e que possibilite o acesso de todos, o que demanda grande esforço e dedicação.
Acho importante ressaltar, também, que o curso de Direito tem um campo de trabalho muito vasto. Não aconselho ao aluno se fechar desde o início da graduação no mundo dos editais, apostilas e concursos: quem muito foca deixa de enxergar o panorama completo.

QG – De maneira geral, como você vê o mercado?

MS – Apesar da grande quantidade de bacharéis e advogados, acho que há muito campo para a atuação do operador do Direito. Seja como juiz, promotor, advogado, delegado ou professor, há ainda muitos lugares carentes de acesso à justiça e várias oportunidades a serem exploradas por aqueles que se dedicam ao Direito.
Para aproveitar tais oportunidades, mais do que o simples atendimento aos requisitos básicos para aprovação nas matérias lecionadas na faculdade, é importante que o estudante busque ir além, aprofundando-se naquilo que for de seu interesse. Na minha opinião, essa é uma maneira de ter um diferencial no mercado de trabalho.

QG – Por fim, qual conselho para quem está pensando em ingressar no curso?

MS –  Meu conselho é para ampliar seus horizontes durante a graduação. Estude de tudo, ao mesmo tempo em que busca, dentro do vasto campo de atuação do Direito, algo que seja do seu interesse, para se dedicar a esse tema com maior atenção e profundidade. Estagiar é fundamental para ganhar experiência e entrar em contato, desde cedo, com o exercício da profissão.

 

Direito

Compartilhar

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp