O Gambito da Rainha: a linha tênue entre Genialidade e Loucura

gambito da rainha

O Gambito da Rainha, a mais nova série da Netflix, baseada no romance de Walter Tevis e protagonizada por Anya Taylor-Joy, vem conquistando cada vez mais espectadores e fãs. A minissérie retrata a história de Beth Harmon, uma jovem orfã sobrevivente de um trágico acidente, que no orfanato conhece o xadrez, revelando-se um prodígio. Acompanhamos a ascensão de Harmon no xadrez, desde o orfanato até a fama em um meio cheio de homens. Entretanto, também vemos o preço alto que ela paga pela genialidade, se afundando em vícios perigosos.

Essa série levantou um questionamento que existe há muito tempo no meio científico: quão tênue é a linha entre a genialidade e a loucura?

A ideia de que a genialidade e a loucura estariam interligadas é considerada desde a antiguidade, nos tempos de Aristóteles. Inclusive, existe uma frase famosa dele e que é o primeiro registro dessa conexão sendo desenhada: “Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura”.

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É inegável que possuímos diversos exemplos do que seriam “mad genius” = “gênios loucos”. Como Vincent Vang Gogh, que sofria de transtornos mentais e muito provavelmente bipolaridade, e que chegou até mesmo a decepar sua própria orelha. Ou John Nash, matemático de “Uma Mente Brilhante”, ganhador do Nobel de Economia, que luta contra sua esquizofrenia paranóide. Até mesmo Isaac Newton, que inventou o cálculo e desenvolveu a Lei da Gravidade, também era conhecido por sua esquizofrenia e bipolaridade.

Seriam apenas coincidências?

Antes de qualquer coisa, precisamos definir o que é genialidade e o que é insanidade.

Genialidade: A palavra gênio vem do latim e invoca duas características que remetem à pessoas geniais: a primeira sendo a capacidade de criar, produzir algo novo e original; a segunda é a inclinação natural, a vocação para fazer isso. Pessoas geniais possuem habilidade intelectual excepcional, produtividade criativa e originalidade.

Insanidade: Perturbação ou desordem mental. A loucura é, segundo a psicologia, uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados anormais pela sociedade ou a realização de coisas sem sentido, advinda de algum transtorno mental.

Qual o limite entre ambos?

Agora vem a parte interessante: genialidade, de forma simplista, é a capacidade de ver. É a capacidade de conectar pontos, associar ideias, ter um raciocínio amplo, enxergar algo onde ninguém mais enxerga. Gênios criativos veem o que outros não veem.

Alguns pesquisadores acreditam que pessoas criativas têm uma inibição latente menor do que as outras, que é a capacidade inconsciente da mente de ignorar estímulos sem importância.

Curiosamente, isso pode ser observado também na loucura. Vários pesquisadores afirmam que pessoas com psicose não filtram estímulo igual pessoas comuns, assim, acabam reparando em associações que deveriam ser ignoradas inconscientemente. Ou seja, se tornam atentas a tudo, seja importante ou não, o que de fato deve ser perturbador. Isso pode ser uma explicação para a inclinação de gênios a doenças mentais.

Além disso, um estudo encontrou um gene (DARP32), que ao mesmo tempo que pode aprimorar nossa capacidade de pensar e processar informações, também pode aumentar nossos riscos de ter esquizofrenia.

A verdade é que a ciência, atualmente, apesar de reconhecer a existência de gênios perfeitamente normais, acaba validando a ideia de que mentes geniais vêm acompanhadas de uma pitada de loucura.

CURIOSIDADE: A veracidade da genialidade de Beth Harmon

Um fato curioso sobre a genialidade da personagem principal de Gambito da Rainha é que ela segue padrões interessantes encontrados em alguns estudos já feitos acerca de gênios.

Andrew Robinson abordou em seu livro “Genius: a very short introduction” uma relação familiar entre gênios bastante inesperada: a perda de um ou de ambos os pais na infância ou no começo da adolescência é pelo menos 3 vezes mais comum entre pessoas geniais do que na população geral. O que é verdade nos casos de Marie Curie, Charles Darwin, Bethoven e Mark Twain, por exemplo.

Isso gerou a teoria de que a criatividade dessas pessoas pode ter sido uma forma de lidar com a solidão ou tentar se manter estável depois de uma grande perda.

Como vemos na série, Beth Harmon não tem relação com o pai e fica orfã de sua mãe aos 9 anos de idade.

Ademais, Francis Galton em seu livro “Hereditary Genius”, mostra uma inclinação de pessoas de uma mesma família para a genialidade. Inclusive, existem 7 famílias com pais e filhos que ganharam prêmio Nobel, o que pode indicar relação genética ou ambiental.

Tal fato dialoga com a série, que nos mostra que a mãe de Beth era PhD em matemática.

Por fim, se você quiser uma dica de série para maratonar, “O Gambito da Rainha” é uma ótima pedida, trazendo atuações excelentes, roteiro bem escrito, trama bem desenvolvida, figurino e cenário riquíssimos e é claro, muita genialidade com um pingo de loucura.

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