Desigualdade Racial nas Redes Sociais – pt 1

Casos recentes de ofensas racistas pelas redes sociais contra a jornalista Maria Júlia Coutinho, a atriz Taís Araújo e a cantora Ludmila ganharam destaque na imprensa. Em julho e outubro de 2015, Maria Júlia e Taís, foram alvos de comentários racistas no Facebook.

Em maio deste ano (2016), a cantora Ludmila também sofreu ofensas que foram publicadas em uma das suas redes sociais. Os casos são parecidos entre si: perfis falsos nas redes sociais oficiais ofenderam as três personalidades com comentários preconceituosos como “cabelo de esfregão” e “macaca”.

Os episódios exemplificam como a internet tem servido de palco para o ódio às diferenças. Pela legislação brasileira, o racismo é crime desde 1989. Mas, sob a proteção do anonimato, muitos agressores criam perfis falsos para deixar comentários de cunho racista nas redes sociais sem serem identificados.

 

Os ataques racistas contra personalidades midiáticas deram maior visibilidade para o problema. Contudo, a questão, que está restrita ao campo das celebridades ou às redes sociais, é parte de um problema muito mais abrangente: a desigualdade racial. No Brasil, a população negra vive em situação de desvantagem socioeconômica em relação aos brancos, vítimas de um longo processo histórico.

#Fica a dica: pesquise a diferença entre racismo e injúria social.


Panorâmica histórica e dados da desigualdade social no Brasil

Os negros, possivelmente, sofrem mais discriminação em países colonizados por europeus e que, entre os séculos XVI e XIX, foram adeptos da escravidão. Estima-se que mais de 4 milhões de escravos africanos tenham vindo para o Brasil entre 1550 a 1850. Em 1888, o Brasil aboliu a escravidão, mas deixou os negros à margem da sociedade, sem qualquer medida compensatória ou de apoio à integração social.

No Brasil, existem, proporcionalmente, mais negros do que o conjunto restante da população – que soma brancos, amarelos e indígenas. A população negra (pretos e pardos autodeclarados pelo Censo) soma 53,6% do total. Porém, a diferença é marcante na desvantagem da população negra em sua participação na educação, pobreza, salários e nos números da violência.

Veja o panorama da Síntese de Indicadores Sociais, divulgado em dezembro de 2015 pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE):

Educação: do total de estudantes negros (entre 18 e 24 anos), 45,5% cursavam o Ensino Superior em 2014, ante 18,9% em 2005. Para a população branca, esta proporção passou de 51,5%, em 2005, para 71,4%, em 2014.

Renda: segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo IBGE no final de 2015, o rendimento dos negros chega a apenas 59,2% do valor recebido pelos brancos.

Desigualdade: em 2014, os negros representavam 76% das pessoas entre a parcela dos 10% com os menores rendimentos. Já no 1% mais rico, correspondiam a 17,4%. Mesmo com o crescimento da proporção de pretos ou pardos no topo da distribuição de renda (eram 12,5% em 2004), persiste uma grande diferença em relação aos brancos, que chegavam a quase 80% no extrato de 1% mais rico, em 2014.

Representação Social: a representatividade dos negros na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e no Judiciário é inferior à dos brancos. Os negros ocupam 20,7% da Câmara dos Deputados. No Senado, são só 7 negros entre os 81 representantes (8,6%). No poder judiciário não é diferente. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, em 2014, 14% dos magistrados se declararam pardos e 1,4% pretos.

Violência: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou, em 2016, o Atlas da Violência. O estudo revela que, entre 2004 e 2014, houve alta na taxa de homicídio de negros (18,2%), enquanto a de não negros caiu 14,6%. Para cada negro vítima de homicídio nesse período, 2,4 negros foram mortos.


Ações Afirmativas
As políticas públicas objetivam reduzir a desigualdade que a população negra herdou desde a colonização. As universidades federais reservam, por lei, cotas para negros e indígenas que cursaram o Ensino Médio em escola pública. A política é criticada pelos que defendem cotas apenas pelo perfil de renda e não associadas à cor da pele.

Veja a parte II do artigo.

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