Autores negros da Literatura brasileira

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Ao longo da nossa trajetória acadêmica, somos expostos ao estudo de diversas obras literárias e seus respectivos autores, principalmente os cânones. No entanto, sabe-se que até hoje a literatura estudada nas escolas é majoritariamente europeia e masculina, e mesmo o maior autor nacional sendo um homem negro – Machado de Assis –, pouco estudamos a respeito da narrativa negra. Nesse sentido, o QG elaborou uma matéria sobre alguns autores negros que seria importante de conhecermos e estudarmos melhor. Confira!  

CAROLINA MARIA DE JESUS 

De catadora de papel à uma das maiores escritoras negras da literatura nacional, Carolina Maria de Jesus é a autora do famoso livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” publicado na década de 1960. Nele, Carolina Maria de Jesus narra a vida cotidiana na favela do Canindé, e como ela consegue sobreviver sendo catadora e mãe solo de três filhos. A fome, a extrema pobreza e as angústias dos favelados também são muito presentes em seus relatos, que foram traduzidos para 16 idiomas e vendidos em 40 países.

LIMA BARRETO  

Filho de escrava liberta e afilhado de Visconde de Ouro Preto, senador do Império, Afonso Henriques de Lima Barreto foi um dos mais importantes escritores brasileiros. Foi autor das obras “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, principal expoente do Pré-Modernismo e “Clara dos Anjos”. Sua obra foi marcada pela crítica ao nacionalismo exacerbado e utópico, ao militarismo e pela denúncia social como o racismo e a pobreza. Isso fez com que a literatura de Lima Barreto tenha se tornado um dos maiores símbolos da resistência e da militância no início de nossa República.  

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CRUZ E SOUSA  

Filho de pais negros alforriados, João da Cruz e Sousa foi um notável poeta brasileiro do Simbolismo e conhecido como o “Dante Negro”. Sob a tutela do coronel Xavier de Sousa, Cruz e Sousa recebeu uma educação refinada que o permitiu que se destacasse em matemática e em línguas como inglês, francês, grego e latim. Suas obras são marcadas pelo sofrimento do ser – que muitas vezes se translitera através do preconceito racial – pelo espiritualismo, individualismo e pela obsessão pela cor branca. 

Vale ressaltar ainda, que embora tenha se tornado um homem culto e erudito, Cruz e Sousa não deixou de se engajar pela causa abolicionista e inclusive dedicou poemas a Castro Alves.  

CONCEIÇÃO EVARISTO 

Maria da Conceição Evaristo de Brito é uma escritora mineira, nascida na periferia de Belo Horizonte e de origem bem humilde. Migrou para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades e para isso teve que conciliar o trabalho como empregada doméstica e seus estudos na faculdade de Letras, onde se formou com 25 anos. Atualmente, Conceição Evaristo é mestre em Literatura Negra e doutora em Literatura Comparada, e tem diversas obras lançadas, desde romance à contos. Neles, a autora aborda temas como discriminação racial, questões de gênero e questões de classe social, dando ênfase na vida cotidiana e na realidade da mulher negra no Brasil.  

STELA DO PATROCÍNIO  

Pouco se sabe sobre a verdadeira história da poetisa Stela do Patrocínio. No entanto, o que sabemos é que ela foi uma interna da Colônia Juliano Moreira, que com a implementação de um tratamento psiquiátrico mais humano através da arte, permitiu que muitos artistas fossem descobertos, dentre eles Stela. A autora na verdade não escrevia, mas sim recitava seus poemas em um fluxo de ideias conscientes, que num geral falavam da condição da mulher negra e pobre. Com isso, nos anos 2000, Viviane Mosé publicou o livro “Reino dos Bichos e dos Animais é o meu nome” que reúne uma série de poemas transcritos, de Stela do Patrocínio.  

MARIA FIRMINA DOS REIS 

Maria Firmina dos Reis foi escritora maranhense, fruto de um caso extraconjugal, num contexto de uma sociedade extremamente segregacionista tanto racialmente quanto socialmente. Se formou como professora e revolucionou o estado do Maranhão ao construir a primeira escola mista e gratuita da época, além também de se dedicar à publicação de contos e crônicas na imprensa local. Em 1859 publicou “Úrsula”, considerado o primeiro romance escrito por uma mulher negra na América Latina e primeiro romance abolicionista publicado por uma mulher, em língua portuguesa, marcando assim a história da Literatura Brasileira.  

Por fim, podemos perceber que, mesmo com tantas contribuições significativas à literatura nacional, a narrativa negra ainda é marginalizada e pouco consumida nas escolas e nas casas brasileiras. No entanto, é extremamente necessário começarmos a dialogar com a literatura afro-brasileira, pois ela pode ser um porta voz na luta contra o racismo. Isso porque a narrativa negra nos apresenta questões acerca da identidade e herança cultural dos povos africanos e afrodescendentes, além de nos mostrar o cotidiano dessa parcela da população, no Brasil.  

Ainda sob essa perspectiva vale lembrar: não basta não sermos racistas, devemos ser anti-racistas.  

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